Estratégia: bases epistemológicas e teóricas dos estudos
Considerando a base epistemológica adotada nos estudos sobre estratégia, percebe-se a evolução dos modelos predominantemente indutivos, com pouco uso de teorias, para modelos mais dedutivos, focados em comprovação e teste de teorias anteriores ao estudo de campo.
Com relação à evolução teórica no campo da estratégia; considera-se que Alfred Chandler Júnior em “Estratégia e estrutura: capítulos na história da empresa industrial”, I. Ansoff, em “Estratégia corporativa”e Alfred P. Sloan Júnior em “Meus anos com a General Motors” estabelecem as bases da análise racional, visando ao retorno do capital, daí a importância dada à realização de mensurações capazes de assegurar que objetivos difundidos dos neveis superiores (concepção) até os níveis operacionais (execução) sejam atingidos. Em contrapartida, posicionam-se teóricos como A. Alchian em “Incerteza, evolução e teoria econômica”, Milton Friedman em “Metodologia da economia positiva. Ensaios em economia positiva.”, A. Aldrich em “Organização e ambientes”, B. D. Henderson em “A origem da estratégia. Quais negócios devem a Darwin e a outras reflexões sobre dinâmica competitiva” e O. Williamson em “Mercados e hierarquias”, os quais postulam a constante luta das empresas em um ambiente severo, em que estrategistas e organizações são considerados como parte de uma comunidade ecológica, associação imediata à teoria evolucionista desenvolvida por Charles Darwin. Daí a importância dos princípios biológicos da evolução, adaptação, sobrevivência, entro outros conceitos configurados numa lógica caramente econômica de hierarquias e mercados. A respeito da influência das teorias econômicas na área de estudos de estratégia; Carlos Osmar Bertero, Flávio C. Vasconcelos e Marcelo Binder em “Estratégia empresarial: a produção científica brasileira entre 1991 e 2002” afirmam que o impacto mais amplo da área econômica também se faz sentir mais acentuadamente. Na verdade, o “posicionamento” de Porter é de origem econômica, mas a referência destes brasileiros é ao contato de acadêmicos brasileiros com a teoria dos custos de transação- TCT, enunciada por O. Williamson em “Mercados e hierarquias” e na obra “Organização econômica comparativa: análise da alternativa estrutural discreta”, com a visão baseada em recursos- RBV (sigla em Inglês) enunciada por B. A. Werer felt em “Uma visão da firma baseada em recursos”, das quais o trabalho de C. K. Prahalad e G. Hamel é uma transposição, e ainda com a teoria da agência enunciada por Jensen. É interessante notar que, embora essas teorias remontem à década de 80 e, no caso da RBV, seja possível até encontrar os fundamentos no trabalho de Edith Penrose, nos anos 50, entre acadêmicos dedicados à área de Estratégia, o contato e a exploração de toda essa literatura surgiu tardiamente e ainda pode produzir impacto mais profundo.
Outra forte tendência no campo da estratégia é representada por estudiosos que enfatizam o componente comportamental e a “racionalidade limitada”. Nesta perspectiva, destacam-se H. A. Simon em “A nova ciência da decisão gerencial”, R. M. Cyert e J. G. March em “Fatores organizacionais na teoria do monopólio”, os quais rejeitam a noção do homem racional econômico, enfatizando os limites da cognição humana e a influência de interesses individuais nas decisões organizacionais. Essa tendência implica em um recorte analítico com ênfase no papel dos indivíduos enquanto tomadores de decisão – ou agentes – e em suas interações com o ambiente. Implica também em explicações que incluam elementos internos e externos à organização.
Pesquisadores como Mark Granovetter em “Redes de negócios: alguns primeiros passos”, D. Knights e G. Morgan em “Estratégia corporativa, organizações e subjetividade” e R. Whittington em “O que é estratégia”, destacam-se, postulando a forte relação entre as razões para determinadas estratégias e os contextos sociológicos subjacentes, ou seja, consideram que processos estratégicos refletem os sistemas sociais em que as estratégias estão sendo elaboradas. Por meio da abordagem institucional, muitos pesquisadores têm desenvolvido estudos relevantes sobre estratégia, como por exemplo, Philip Selznick em “TVA e a raiz da grama: um estudo na sociologia da organização formal”, W. R. Scott em “Instituições e organizações: em direção a uma síntese teórica”, “Instituições e organizações” e “Organizações: racional, natural e sistemas abertos”, Christine Oliver em “Respostas estratégicas para processos institucionais” e “Os antecedentes das desinstitucionalizações”. No Brasil, destaca-se Clóvis L. Machado-da-Silva em “cognição e institucionalização na dinâmica da mudança em organizações: proposição de modelo teórico e tentativa de validação empírica”, precursor de estudos de estratégia sob a abordagem institucional.
Carlos Osmar Bertero, Flávio C. Vasconcelos e Marcelo Binder em “Estratégia empresarial: a produção científica brasileira entre 1991 e 2002” desenvolveram uma pesquisa da produção científica brasileira na área de estratégia empresarial entre 91 e 2002. Com base em artigos publicados em revistas acadêmicas e nos anais do Encontro Nacional das Instituições de Pós-Graduação em Administração- Enampad, os artigos foram classificados com base em perspectiva teórica, temáticas propostas pelos autores, metodologia empregada no artigo, artigos produzidos pela universidade/faculdade, número de autores por artigo e autores mais prolíficos no campo. De acordo com os resultados obtidos, a maior parte dos artigos enquadrados no esquema classificatório de Richard Whittington, 50,5%, foram considerados integrantes da perspectiva clássica, caracterizada pelo propósito de maximização de lucros a partir de uma visão intencional e deliberada de estratégia dos artigos, 27,5% foram classificados em uma perspectiva processual, caracterizada pela descrença na utilidade do planejamento de longo prazo, cujo conceito de estratégia corresponde a um processo heurístico de aprendizagem, tentativa e erro. Do restante dos artigos, 13,7% foram classificados sob a perspectiva sistêmica, e 8,2% sob a perspectiva evolucionária. De acordo com a perspectiva sistêmica, os objetivos e as práticas da estratégia dependem do sistema social específico no qual o processo de desenvolvimento de estratégia está inserido. Na perspectiva evolucionária, por sua vez, o ambiente é considerado muito imprevisível para que se possam fazer previsões eficazes, e o que prevalece é um processo de seleção análogo à seleção darwiniana.Cláudio Márcio Araújo da Gama
Florianópolis / SC
http://marcio.gama.zip.net
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