Estratégia: o ambiente organizacional e seus antecedentes históricos
Historicamente, o ambiente tem sido considerado elemento-chave na definição de estratégias organizacionais. Sob diferentes interpretações e modelos, é constante a busca por teorias explicativas e preditivas da influência do ambiente sobre a organização, e vice-versa.
A própria evolução dos estudos de estratégia reflete mudanças periódicas em termos de percepção e levantamento de hipóteses a respeito da influência ambiental sobre as organizações. Neste sentido, uma análise das tendências atuais no pensamento estratégico é um exemplo de como a percepção generalizada a respeito do ambiente afeta a definição de estratégias organizacionais. Na maior parte das grandes organizações, hoje, prevalece a percepção de que o ambiente tem se tornado cada vez mais turbulento, complexo e imprevisível.
Na década de 60, por sua vez, período em que ainda se observava a recuperação pós-guerra, observou-se a evolução das empresas para uma forma considerada moderna. Nos países desenvolvidos, em particular, verificou-se uma tendência á diversificação nas indústrias, principalmente em decorrência de um crescimento súbito no tamanho de muitas organizações. Essa opção estratégica reflete a percepção prevalente da época: acreditava-se que grandes empresas apresentariam menores custos de capital e atrairiam gerentes mais talentosos que as pequenas empresas. Como consequência, as pesquisas em estratégia passaram a focar temas como expansão, diversificação, aquisição e controle de conglomerados.
Nos anos 70, período de estagnação e alta na inflação, muitas empresas passaram a adotar estilos de gestão mais conservadores, enfatizando os sistemas de controle financeiro. Ao mesmo tempo, percebeu-se a necessidade de aumentar a participação de mercado em relação aos negócios principais, razão pela qual se tornou uma tendência a utilização do caixa gerado por esses negócios na criação de novas empresas. Neste período, observam-se o surgimento de estratégias baseadas no gerenciamento de portfólio e a criação das unidades estratégicas de negócios, as UENs.
Na década de 80, observa-se uma série de fatores que conctibuíram para aumento na preocupação com fatores relacionados á eficiência organizacional, entre estes: aumento da competição internacional em decorrência dos efeitos da globalização e déficit no orçamento e desequilíbrio no comércio internacional como resultado do aumento da competitividade das indústrias japonesas. Nesta época, a estratégia financeira passou a ocupar maior espaço na agenda estratégica das grandes organizações, levando ao redirecionamento de recursos para negócios mais rentáveis, muitas vezes por meio de tomadas hostis (takeover). As pesquisas em estratégia desta época ocuparam-se principalmente de estudos de processos de reestruturação, alavancagem externa, desinvestimento e downsizing.
Nos anos 90, percebeu-se uma rápida e descontínua mudança econômica e política no ambiente organizacional. A guerra fria terminou, o Leste Europeu se abriu, o Japão começou a apresentar problemas internos e a União Europeia começou a se estruturar. Com isso, muitas redes corporativas foram iniciadas como estratégia para aumentar, ao mesmo tempo, o controle e a flexibilidade das organizações perante um ambiente carregado de incertezas. Todas essas mudanças ambientais se refletiram em novo redirecionamento dos estudos de estratégia, desta vez para questões ligadas á formação de alianças multinacionais, mudança tecnológica e reestruturação contínua.
E o Século XXI? O fato é que qualquer previsão corre o risco de não se concretizar diante do ritmo acelerado das mudanças que configuram o ambiente das organizações. Aliás, parece ser necessária uma revisão do próprio conceito de ambiente, em particular no que se refere à abrangência e interação entre os múltiplos “ambientes” aos quais estão sujeitas as organizações. De qualquer forma, são relacionadas algumas tendências para a formação de uma agenda de estudos ambientais em estratégia: aumento na busca por explicações interdisciplinares e multiparadigmáticas para o impacto dos elementos ambientais, crescimento dos estudos de redes interorganizacionais e outros formatos híbridos, aumento do interesse por fatores ambientais relacionados à questão da sustentabilidade global em seus diversos níveis e busca contínua por ferramentas gerenciais que aumentem a capacidade de percepção e filtragem das informações ambientais.
Cláudio Márcio Araújo da Gama
Florianópolis / SC
http://marcio.gama.zip.net
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